sábado, 5 de abril de 2008

Horton Hears a Who?



Qual seria a característica humana mais marcante? Alguns com certeza citariam uma resposta tímida e bela como "a capacidade de amar". Eu prefiro ser um pouco mais ousado: acredito que a individualidade e o ego seriam mais fortes, e o amor talvez uma arma egoísta que saciasse nossos desejos íntimos de exercer um certo domínio sobre alguém de forma legítima e ainda divulgar este mesmo domínio e obter sorrisos por parte de outras pessoas, admiradas com um sentimento tão lindo! Hummm...você deve estar me achando muito pessimista, não?
Embora a animação "Horton e o Mundo dos Quem?" pouco discurse sobre esse assunto explicitamente, sem dúvida existe uma base aqui correlacionada com os escritos acima, mesmo que em um nível atenuado. Um belo e adorável elefante, cercado de engraçados amiguinhos um dia, ao andar pelo seu ambiente de origem (claramente adaptado para uma recriação da sociedade humana, inclusive com hábitos reproduzidos, como em toda boa fábula), descobre a existência de uma comunidade vivendo em um minúsculo grão.
Naturalmente a utopia se espalha por todos os cantos. Todos na sociedade parecem extremamente felizes (excetuando os personagens chave, claro, pois serão alvos de conflitos resolvidos durante o desenrolar da estória), Horton parece ser extremamente correto e bondoso (até mesmo no questionamento em relação ao conservadorismo da sociedade em que ele estava inserido) e todos o amam, com exceção, é claro dos maldosos inimigos, estilizados ao mais extremo (e que subitamente terão reestabelecido o senso de justiça quando for a hora adequada).
Horton inspira uma metáfora de Deus (é...religiosidade presente aqui também!).
Ao tomar o grão nas mãos e protegê-lo das garras da maldosa mãe canguru e brincar com o clima da "Quemlândia", além de se comunicar com o prefeito da minicidade, poucos são os corajosos que fazem uma análise fria e percebem que o elefante brinca com o destino de todos os habitantes locais, exercendo um poder muito parecido com o polêmico que eu citei no primeiro parágrafo. Fica agora muito óbvio porque ele possui características tão perfeitas. Deus não faria mal às pessoas, mesmo que tivesse poderes paranormais (!) para destruir tudo. Horton não é o criador, mas é perfeito mesmo assim (ou o que as crianças abstrairiam de tudo aquilo?!).
Apesar do maniqueísmo, o filme é agradável..não tanto pela estória e desenvolvimento - na verdade, creio que ninguém coloca um elefante (visto por nós como pesado e enorme) como protagonista de uma estória onde ele tenta proteger um grão minúsculo onde existe um mundo (exatamente o oposto) sem demonstrar claramente que há uma reflexão por trás de tudo.
Acho que nem é preciso dizer que podemos começar com "como somos pequenos diante de um universo tão extenso e desconhecido" ou "será que somos tão grandes assim como pensamos?" e daí tirarmos uma série de lições bonitas, mas acho que, quando se propõe algo tão complexo e se discute de forma muito simples - e aqui há uma obrigação clara em se fazer uma discussão superficial por causa do principal público alvo - tenho a sensação de ver uma ótima idéia desperdiçada. Principalmente com aquele final moralista e meio bobo.
Claro também que existem ícones de nossa sociedade reproduzidos nos personagens. Até mesmo celulares e sua necessidade atual são retomados em Quemlândia. A Câmara que toma as decisões políticas e se mantém no poder acima do povo, etc. Não creio que haja algo muito interessante relacionado a isso, já vi muitas vezes e não achei essa abordagem em particular muito original ou que acrescentasse um elemento novo.
Destaque, entretanto, positivo, para aquele animalzinho amarelo (uma fêmea) que acompanha de vez em quando Horton (meu Deus, quase mijei na calça de rir dele no filme inteiro, gostaria que aparecesse mais), que contradiz a lógica o tempo todo com piadas totalmente absurdas e engraçadíssimas, a última aparição, então, é deliciosa! Me lembrei de um personagem dos Simpsons que gosto muito e que apresenta várias similaridades com ela... me esqueci do nome, mas é um secundário. Ah, depois eu lembro. : )

***6,2/10

4 comentários:

Dewonny disse...

Adoro animações, essa com certeza irei assistir em breve, gostei do trailer, parece ser legal..abs!

Alípio França disse...

Apenas nao esqueça que, nós adultos, sempre enxergaremos algo por detrás e um misto de emoçoes em qualquer coisa que assistirmos. No entanto, ali também está o puro e simples divertimento para os pequeninos.

Anônimo disse...

Oi Sílvio,

Dei uma passadinha rápida para visitar o teu Blog, e gostei dos comentários! :-)))

Não vi nenhum destes dois filme ("Horton Hears a Who?" e nem o "REC").

Do "Horton..." eu vi o trailer no cinema e de imediato me veio à lembrança os moradores de "Quemlândia" (Whosville) em outro grande filme: The Grinch, com o Jim Carey. Aliás, para mim, este é o grande papel da vida dele! Merecia um Oscar!

Voltando aos "whos", não vi no teu comentário nenhuma referência ao ingênuo povo do Grinch. Existe alguma ligação entre eles? Entre "The Grinch" e "Horton Hears a Who?"?.

Um grande abraço,

Cordialmente,
Cevallos.
= JTC/jtc =

Mr. Scofield disse...

Poxa, gente fico muito satisfeito de ver o pessoal frequentando o blog (tenho que ter tempo de escrever mais um pouco).
Diegão, assista sim. Recomendo e estou esperando a volta de você atualizar lá no blog, hein?
Alípio, com certeza. Adorei seu comentário!
Cevallos, poxa, honra ver você aqui, garoto. Eu não fiz a comparação porque...não vi The Grinch...fiquei curiosíssimo...em breve ele aparece lá na lista ou aqui no blog...: ))